Dando seguimento às histórias coloradas... Hoje é a vez do João Victor.
Leia, vale a pena!
"Tudo começou em São Sebastião do Caí, minha terra natal. Nos meus primeiros anos de vida, meu pai, o Sr. Neri, apesar de muito colorado, fazia menos esforço para que eu o fosse, se comparado à vontade que minha mãe, a Sra. Clori, tinha de me fazer gremista. Eu, sinceramente, não dava a mínima bola. Lembro (hoje com tristeza) de trajar, vez que outra, a camisa do nosso rival, até o sétimo ano de vida, o que pra minha sorte viria a mudar definitivamente.
Não foi por nenhum golaço, ou por um título importante, tão pouco por esse ou por aquele jogador que decidi, de maneira consciente, para qual time eu torceria. Ao completar sete anos, no dia 1º de março de 1989, ganhei de meu pai um singelo dicionário ilustrado. Apesar da sutileza do presente, eu achei aquele livro o máximo. Gostei tanto daquele presente como poucas vezes gostei de outro na vida. Vai saber porquê? Hoje, bem que suspeito... Aquele objeto veio a ser o divisor de águas, pois me fez tomar uma decisão que definiria, porque não assim dizer, o rumo da minha vida.
Ainda no mesmo dia que o ganhei, sozinho na cama, ao manipular meu mais novo tesouro, pensei: de que forma posso agradecer ao meu pai? A resposta não demorou a surgir... Claro! Vou virar colorado! Corri do quarto até a sala, quando então abracei forte o meu velho, dizendo: pai, a partir de hoje, eu também sou colorado!! Gosto de lembrar disso... Ele ficou muito feliz, emocionado inclusive.
Pois bem, parecia que eu tinha apertado naquele instante em um botão e ligado meu intenso coloradismo. Dali em diante, passei a acompanhar o Inter pelo rádio, em todos os jogos. Lembro-me de alguns jogadores da época como Paulinho Crisciúma, Maizena, Márcio Santos, Luis Carlos Winck, e por aí vai...
Tempo depois, morando em Bom Princípio, não lembro ao certo se no ano de 90 ou 91, ganhei de meu pai a camisa oficial número 9. Nosso centroavante, à época, já era o Gerson, hoje falecido. Recordo que eu era, senão o único, um dos poucos da cidade que tinha uma camisa oficial do Inter, o que me enchia de orgulho.
Em 1992 meu pai foi transferido para uma agência do Banrisul da Capital. A primeira coisa que ele fez foi se associar ao Parque Gigante. Meu primeiro jogo foi Inter 2 x 0 Cruzeiro, pelo Brasileiro.
A partir daquele mesmo ano eu passei a ir sozinho aos jogos. Ia a todos, pois não pagava passagem nem ingresso. Anotava num caderno todos os placares, e lembro como se fosse hoje da final da Copa do Brasil, contra o Fluminense.
Desde então, o Beira-Rio se tornou minha segunda casa. Vou a todos os jogos, sempre para apoiar o Inter e louvar sua camisa, independentemente da qualidade de quem a ostente em campo. Jamais vaiei meu clube do coração.
Enfim, foi assim que tive o privilégio de me tornar colorado, hoje ainda mais feliz pelo convívio com muitos amigos que compartilham da mesma e grandiosa emoção que é torcer pelo Internacional.
Finalmente, um fato curioso que aconteceu envolvendo o Inter.
Era véspera do dia 17 de dezembro de 2006. Mesmo servindo ao Exército como cabo, eu fazia uns bicos pra levantar “um” a mais, pois já tinha uma filha e a grana era curta. Naquela noite trabalhei como garçom. Era uma festa empresarial, e estávamos servindo chopp. Eu só pensava no jogo, e lá pelas tantas, todo mundo pra lá de Bagdá, passei a entornar um outro copo, às escondidas. Estava muito ansioso, e aquele chopp transformou minha ansiedade em felicidade e bom preságio. Foi o serviço mais alegre que fiz. Eu não pretendia dormir, pois sabia que o jogo era logo cedo, então fui bebendo para aumentar a voltagem.
Horas depois, a Goethe já explodira em comemoração ao tão sonhado título. A bebedeira havia começado na madrugada anterior, não cessou em momento algum durante o jogo, e se estendeu pela tarde e noite a fora, em festejo. Não preciso dizer: segunda-feira eu estava “podre”. Não fui ao quartel.
Pra piorar, ou melhorar, como queiram, terça-feira estava prevista a chegada do Inter, pela manhã. Não titubei. Acordei e fui direto ao Beira Rio. Não fui trabalhar, de novo. Por volta de meio-dia, no Gigante, em meio a milhares de colorados que já aguardavam Fernandão e cia. recebi uma ligação do quartel:
Sgt: - Alô, Deboni?
Eu: - Oh Sargento... e daí? que manda?.
Sgt: - Tu foi pro Japão tchê?
Eu: - Não, não, to aqui no Beira-Rio, esperando o Inter.
Sgt: - Ah bom! To ligando pra te avisar que o Coronel quer o teu coro e tu deve te apresentar hoje pro pernoite...
Eu: - Sim senhor Sgt, saudações coloradas!
Tive que dormir no quartel, naquela noite, como punição pela falta a dois dias seguidos de expediente. Quase um desertor. Mas, ao menos pra mim, tudo estava justificado...
Hoje sou bancário e advogado, pai da colorada Laura e de outra pessoa que está no ventre de minha colorada esposa Camila. Está para nascer mais um(a) apaixonado(a) colorado(a).
Forte abraço!"
Espero mais histórias!
Todas serão muito bem vindas e publicadas!
Saudações Coloradas!
Abaixo, na foto, João Victor e Camila.
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João Vitor.
ResponderExcluirBeleza de história e relato. Grande amigo e pessoa maravilhosa. Um colorado de fé.
Pelo Inter a gente faz o possivel e o impossivel. Até "detenção" no quartel...
abs.
Lauro Baldi