quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Minha História Colorada - Lauro Baldi

Seguindo nas "Histórias Coloradas", hoje temos a história de Lauro Baldi, nosso cônsul do bairro Santo Antônio.
Leiam... vale a pena!
"Eu tinha uns oito ou nove anos de idade e morava em Progresso, um pequeno distrito de Lajeado, quando os guris mais ligados ao futebol, me intimaram a optar.

Um me disse: o meu e o teu pai são do Grêmio, tu tens que ser também.
Apenas pensei.
Logo, peguei um jornal que tinha divulgado a escalação do Internacional da época. E vi que na lista havia um nome igual ao meu: Lauro.
A partir disto me tornei colorado. Para um guri, aquela relação era mais do necessário para escolher um time. Mais tarde veria que o Inter era muito mais.
Aos 14 anos, fui para Lajeado fazer o ginasial. Lá trabalhando num restaurante, associei-me ao Inter como sócio correspondente.
Terminado o ginásio, optei por vir a Porto Alegre servir o exército e estudar.
Era dezembro de 1957.
Meu pai, pequeno comerciante hoteleiro de Progresso, concordou e acertou o meu transporte com o Galinheiro, como era conhecido o homem que comprava galinhas vivas no interior e trazia para Porto Alegre para abastecer os armazéns de secos e molhados (como eram conhecidos na época os minimercados de hoje).
Nem foi pelo custo da passagem, mas para vir para Porto Alegre de carona com "o" Galinheiro, que sabia como me encaminhar para uma pensão na Rua Coronel Genuino de propriedade de um Progressense. Pensão familiar, onde hoje está o Senac.
Viagem tranqüila.
Chegamos cedinho na Capital.
Direto para uma casa comercial na Av. Voluntários da Pátria, a Prolo S/A, pois o dono, José Prollo, Diretor do Inter, era muito amigo do dono da pensão onde iria me hospedar.
Dali, então, um funcionário me acompanhou, subimos a Rua Mal.Floriano, e também descemos, até a tal pensão na Rua Cel.Genuino, carregando minha mala de roupas e pertences, que por sinal não era muita coisa.
Instalei-me nesta pensão familiar.
Mal havia colocado a mala em um novo quarto, e logo de cara perguntei como poderia chegar ao estádio dos "Eucaliptos".
Me falaram que o melhor modo de chegar na casa colorada era através do bonde.
Havia também microônibus (na época era micro mesmo, que o próprio motora cobrava a passagem).
Mas: "tu não é louco sair por aí, vais te perder”, me disseram!
Era cedo para o almoço, umas 9h.
Fui para a rua e resolvi seguir os trilhos daquele transporte da época. Na esquina da Rua José do Patrocínio, aguardei. Da Pracinha Daltro Filho vinham os bondes. Quando apareceu um "Menino Deus" eu o segui.
Sabia pelos jornais que o Estádio ficava na Rua Silvério, no Menino Deus.
Fui sempre seguindo os trilhos do bonde. Na Rua da República, um cruzamento.
Aguardei outro bonde para ver que lado seguia.
Chegou e seguiu reto.
Para mim tudo era desconhecido, cidade enorme, quase perdido, mas não queria desistir, para conseguir meu desejo.
Na Rua Venâncio Aires, novo cruzamento, nova parada, nova espera, novo bonde.
Seguiu para a direita.
Lá fui eu caminhado, seguindo o trilho do bonde até a Av. José de Alencar.
Lá, o bonde dobrou para a direita e eu seguindo-o, até enxergar a Rua Silveiro.
Que felicidade quando vi a placa que indicava o logradouro tão procurado!
Rua Silveiro.
Caminhei uns passos, nem meia quadra e avistei o MAJESTOSO estádio colorado.
Havia valido a pena toda a trajetória pelas ruas de Porto Alegre.
Estava aberto, entrei, vi e voltei feliz, agora de bonde, que na Rua Venâncio AIres seguiu reto para o HPS...
Mas pulei... e peguei outro na Rua José do Patrocínio. Estava salvo e em casa, praticamente.
Era o maior Estádio que já tinha visto.
E mais que isso: o Estádio do MEU Clube Amado.
Que foi sede de jogo da Copa de 1950.
Era o local onde jogava o time que eu decorei e obrigava minhas duas irmãs mais novas a decorar sob pena, dizem elas hoje, de não autorizá-las a sair do quarto se não soubessem.
Era: Lapaz, Florindo e Oréco. Mossoró, Odorico e Lindoberto. Luizinho, Bodinho, Larry, Jerônimo e Chinesinho. Técnico: Francisco Duarte Júnior, o Teté.
Eu só conhecia o Estádio do Esportivo de Lajeado, hoje Lajeadense, que já foi demolido.
Em 1962, já oficialmente morador de Porto Alegre, adquiri o titulo patrimonial para ajudar nas obras do Beira-Rio.
Após, adquiri também o título de Paraninfo.
Neste novo palco veria muitas conquistas.
Mas nunca esqueci do primeiro celeiro de vitória. Foi no "Eucaliptos" que a glória começou.
Embora meu pai tenha sido gremista, mas bem light, nunca me influenciou, todavia eu acho que influenciei todas minhas cinco irmãs (sou o único filho homem), pois todas são coloradas. A mais nova vai a quase todos os jogos.
A minha incompetência ocorreu com meus filhos: o segundo e o quarto, após minha separação, trocaram e passaram para o lado de lá.
As mais novas, as meninas, gêmeas, ao natural, ficaram com o GFPA, na época recém campeão intercontinental.
Só sobraram colorados o mais velho e o terceiro, o Júnior, este é fanático, que agora está morando em Santa Catarina e certo dia, com uns 8 ou 9 anos, me disse: pai, todos viraram... mas eu não mudo nunca de time.
E ele está certo, a gente troca de mulher, mas nunca de time...
Hoje tenho escritório de contabilidade, graças ao curso de Técnico em Contabilidade obtido no C.C.Protásio Alves, em 1962, cursei Direito na PUC em 1986 e curso de Corretor de Imóveis na E.T.Ufrgs em 2001.
Hoje sou cônsul do Inter do Bairro Santo Antônio em Porto Alegre."
Abaixo, foto do sr Lauro Baldi, com o "Escurinho", mascote do "Inter Social"...
Espero os relatos de vocês!
Saudações Coloradas a todos!

7 comentários:

  1. Belo texto Tio Lauro, tanto que foi publicado no Livro Histórias Coloradas. Esse relato é “somente” um dos diversos que jamais esquecerei. Cresci escutando e aprendendo contigo muito sobre o nosso Inter. Sempre que tenho oportunidade conto, com orgulho, esses episódios a outros Colorados. Obrigado por fazer o nooso Inter cada dia maior! Grande abraço, Diego.

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  2. S. Lauro,

    Adorei a sua história, fez eu me lembrar de meu pai que falava que dia de bonde para o Estádio Eucaliptos.

    O senhor deveria ter comentado também, que fazes muitas teimosias pelo Inter, entre elas ter andado em uma das maiores montanhas russas do mundo, após ter recebido alta de um enfarte.

    Tenho admiração pelo senhor!

    Um abraço e muitas saudações coloradas!

    Claudinha
    Consulesa Bairro Santa Cecília

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  3. S. Lauro, saudades do amigo.

    Bela história, de um desgarrado colorado.

    Grande abraço e até a vista!

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  4. Prezado Cônsul Colorado Dr. Lauro Baldi:

    Li e reli a sua "Histórias Coloradas 3".
    Um retorno ao passado: infância, mudança para a nossa Capital do RS, a viagem, servir à pátria nas fileiras do Exército Nacional, o abastecimento dos mercados com aves vivas do interior do Estado e sua distribuição, os meios de transportes da população - o bonde e os trilhos de ferro em Porto Alegre, a "pensão familiar", hospedagem dos estudantes egressos dos confins deste pago, a formação profissional no Curso Técnico em Contabilidade, o Bacharelado em Direito, o escritório de Contabilidade, laços famíliares, filhos, parentes e amigos até a concretização do sonho.
    Uma verdadeira aula de perseverança, uma experiência, um aprendizado de que, quando queremos e perquirimos, os nossos ideais se realizam, basta determinação, fé e coragem.
    Aquele jovem, inexperiente, mas corajoso e perseverante, recém chegado "à selva de pedras", deixado o aconchego do lar dos seus pais, não assustou-se com os "arranha-céus", determinado seguiu o bonde, chegando onde queria: conhecer o seu amado Estádio dos Eucaliptos do nosso glorioso Sport Club Internacional.
    Lição de vida a ser seguida por todos, podemos interferir nos nossos destinos indo em busca daquilo que desejamos de coração, pois a "fé remove montanhas".
    Parabéns Dr. Lauro Baldi, nossa admiração com saudações coloradas.

    Dra. Jâne Róssi,
    OAB/RS 47.527,
    Rua dos Andradas, 1.664/709, Porto Alegre/RS
    Telefones: (051) 3226.63.17 e 3029.07.09

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  5. MUITO OBRIGADO.
    Não sei se cabe comentário meu sobre a MINHA HISTÓRIA COLORADA, mas não posso deixar de agradecer aos que postaram seus comentários, Diego, Claudinha, João Vitor e Dra.Jane.
    Relatos e comentários muito bem escritos. Os elogios a meu respeito são frutos dos laços de parentesco e amizade destas pessoas, especialmente a Dra. Jane Rossi, competente advogada, que fez longo, bonito e profundo comentário analisando sociológicamente minha história. Todos mostram um coração cheio de amor e bondade.
    Muito obrigado.
    Saudações Coloradas.
    Lauro Baldi

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  6. Querido Lauro,
    uma história cheia de realismo e comovente para qualquer colorado, assim como eu e meus filhos. Cresceram na tua convivência, ouvindo sempre tuas aventuras e admirando teu "fanatismo".
    Minha primeira carteira como "dependente de sócio paraninfo" deste clube glorioso ainda existe e é uma relíquia.
    Nos enchemos de orgulho com a tua história publicada no livro, a sessão de autógrafos e agora esta postagem no blog.
    Parabéns! Obrigada por ser este colorado que transcende o teu coração e engrandece cada vez mais o nosso INTER!
    Tua mana Chica

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  7. Querido Lauro
    Lembro até hoje o quarto de infância quando tu nos trancavas dentro dele para que decorássemos os nomes dos jogadores da época. Só tinhamos permissão para sair dele depois de citar, por ordem de escalação, todos os nomes dos jogadores. Também lembro de recortes de jornais que nos apresentavas nas "aulas coloradas".Com orgulho li e vi tua História selecionada. Parabéns meu irmão.
    Tua mana Aidê

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